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A tábua de salvação do FMI e o dilema da dívida

A economia do Paquistão está há muito tempo nas garras da instabilidade financeira, caracterizada por um crescente fardo da dívida e recurso frequente ao financiamento externo. A declaração recente do Ministro das Finanças Muhammad Aurangzeb ressalta a urgência da situação, pois ele destacou a antecipada renovação de empréstimos de países amigos e as negociações em andamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para uma nova Extended Fund Facility (EFF). Essa situação levanta questões críticas sobre o futuro financeiro do Paquistão e a sustentabilidade de suas políticas econômicas.

A dependência de empréstimos de curto prazo e renovações de dívidas de países como China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos se tornou um tema recorrente na narrativa econômica do Paquistão. Essas renovações fornecem alívio temporário, mas não abordam as fraquezas estruturais subjacentes na economia. A necessidade frequente de tal suporte financeiro reflete a incapacidade do país de gerar receita doméstica suficiente ou atrair investimento estrangeiro sustentável.

O tão esperado pacote de resgate de US$ 7 bilhões do FMI enfrentou mais atrasos. O Conselho Executivo do FMI não incluiu o pedido do Paquistão em sua última agenda de reuniões, citando a falha do país em garantir uma rolagem oportuna de US$ 12 bilhões em empréstimos de países amigos. Esse atraso agrava a posição financeira precária do Paquistão, já que o país enfrenta pagamentos externos significativos devidos neste ano.

O governo paquistanês revelou um plano de empréstimo de Rs32 trilhões para o ano fiscal de 2024-25. Este plano depende fortemente da aprovação do empréstimo do FMI e da rolagem da dívida de países amigos, particularmente a China. O empréstimo é essencial para financiar o déficit orçamentário e pagar a dívida que vence, refletindo a terrível situação fiscal do país.

O país deve equilibrar os seus planos de crescimento económico a curto prazo, alimentados pelo Fundo, com planos sustentáveis ​​a longo prazo para criar uma economia sem dívidas

Mesmo que o Paquistão chegue a um acordo de nível de equipe com o FMI para um novo empréstimo de US$ 7 bilhões, esse acordo virá com condições rigorosas, incluindo a eliminação gradual de incentivos para Zonas Econômicas Especiais, redução de subsídios e implementação de reformas anticorrupção. Essas medidas visam estabilizar a economia do Paquistão, mas levantaram preocupações sobre seu impacto no crescimento e na estabilidade social.

A dependência contínua dos empréstimos do Fundo atraiu críticas por exacerbar a crise da dívida do Paquistão. Os críticos argumentam que as condições do FMI, focadas em austeridade fiscal e tributação regressiva, aprofundaram a pobreza e a desigualdade no país. Apesar da estabilização econômica temporária, essas medidas são vistas como insustentáveis, potencialmente empurrando o Paquistão ainda mais para uma armadilha da dívida.

Em situações tão preocupantes, o Paquistão precisa tomar medidas imediatas para soluções de curto prazo. A primeira medida de curto prazo é a renovação de empréstimos existentes. Como o Ministro das Finanças Aurangzeb mencionou, a renovação de empréstimos de países amigos é crucial no prazo imediato. No entanto, essa abordagem não é isenta de riscos, pois apenas adia o ônus do pagamento sem abordar as causas raiz da crise da dívida.

Outra medida de curto prazo é negociar termos favoráveis ​​com o FMI. O Paquistão deve continuar suas discussões para garantir o EFF em termos que equilibrem a consolidação fiscal com o crescimento econômico. Negociar um período de pagamento mais estendido, taxas de juros mais baixas e flexibilidade nos cronogramas de reforma pode ajudar a mitigar o impacto econômico negativo, ao mesmo tempo em que garante a conformidade com as condições do Fundo.

A gestão da taxa de câmbio também é necessária como uma medida-chave de curto prazo. Estabilizar a rupia paquistanesa deve ser uma prioridade para evitar uma maior erosão das reservas cambiais. Uma combinação de intervenções baseadas no mercado e uma política monetária prudente pode ajudar a atingir esse objetivo, reduzindo assim o custo do serviço da dívida externa.

Além das medidas de curto prazo, o Paquistão também precisa focar nas medidas de longo prazo. A primeira e mais importante medida essencial são as reformas estruturais. A estabilidade econômica de longo prazo do Paquistão depende da implementação de profundas reformas estruturais.

Isso deve incluir reformas tributárias para ampliar a base de receita, reduzir a dependência de impostos indiretos e melhorar a conformidade tributária. Além disso, reformas no setor de energia, empresas públicas e setor agrícola são essenciais para aumentar a produtividade e reduzir déficits fiscais.

O Paquistão também precisa de diversificação de exportações a longo prazo, pois a base de exportação do Paquistão é estreita, dependendo fortemente de têxteis e alguns outros setores. Diversificar as exportações promovendo indústrias de valor agregado, investindo em tecnologia e aprimorando as relações comerciais com mercados emergentes pode ajudar a reduzir o déficit comercial e construir reservas cambiais.

Também precisamos encorajar o investimento estrangeiro direto (IED). Atrair IED é vital para o crescimento econômico e reduzir a dependência de empréstimos externos. O Paquistão precisa melhorar seu clima de investimento garantindo estabilidade política, aprimorando a infraestrutura e simplificando os processos regulatórios, que são todas medidas de longo prazo.

Por último, mas não menos importante, o fortalecimento das instituições também é uma medida essencial. Construir instituições fortes e transparentes é essencial para a estabilidade econômica de longo prazo. Medidas anticorrupção, reformas judiciais e melhorias na governança não só aumentarão a confiança dos investidores, mas também garantirão que os recursos públicos sejam usados ​​de forma eficiente.

Ao se concentrar na ampliação de sua base de receita, diversificação de exportações e atração de investimentos sustentáveis, o Paquistão pode traçar um caminho em direção à independência financeira e ao crescimento econômico de longo prazo.

O escritor é um economista paquistanês radicado na Arábia Saudita.
X: @moheyuddin.

Publicado em Dawn, The Business and Finance Weekly, 2 de setembro de 2024

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